Homenagem a Carlos Rodrigues Brandão, por Emília Pietrafesa de Godoi.
#AbreAspas | Em um de seus escritos da primavera de 2022, A Estrada que vai para a montanha, Carlos Rodrigues Brandão nos diz “E por esta trilha [entre a literatura e a antropologia] vivo desde sempre a minha antropologia como “campo”, como “busca do outro”, como um “sair de em direção a”, como uma “acadêmica aventura”, como peregrinação.
E, por que não? como também literatura. Como a “antropoética” que me acompanha até hoje”. Esta concepção e este fazer já estavam manifestos no seu livro de 1983, Diário de Campo: a Antropologia como alegoria. Nele encontramos “essa busca do outro” em forma de pura poesia; naquela altura, o professor revela na dedicatória que me fez “este é o livro que mais contém quem eu sou”.
A abertura para o outro sempre esteve presente não somente no antropólogo, mas também no educador. Como antropólogo dedicou-se aos cenários e vida rurais, com estudos sobre o mundo da vida e do trabalho camponês e as culturas populares – a religião, as festas e seus ritos. Muitos dos seus trabalhos incidem sobre ritos de camponeses e negros mostrando como na “cotidianidade camponesa mais ancestral”, como em uma dança de congos de negros de uma cidadezinha goiana ou mineira existem raízes e subsistem embriões de resistência cultural. Também a dimensão ambiental, articulada ao cotidiano camponês, integra os seus estudos, sobretudo a partir dos anos de 1990, com o projeto “Homem, Saber e Natureza”.
Há um outro campo que despertou o seu interesse muito cedo: a educação popular. Ainda estudante de filosofia e psicologia, em 1963, começa a vida de “educador popular” com seu trabalho no Movimento de Educação de Base (MEB), ligado às comunidades rurais. “Educação e cultura popular” vão se transformar mais tarde em outro campo vigoroso de investigação do antropólogo. C. Brandão, antropólogo, poeta, educador incansável, encantou pelas palavras e também pela prática de uma vida solidária. Deixou-nos um legado imenso, que continuará a nos inspirar.
Texto: Emília Pietrafesa de Godoi
(Unicamp)