Por Paulo Augusto Franco

Publicado originalmente em 02/02/2021.

Foi o conhecido antropólogo e historiador da economia, Karl Polanyi (1886-1964) quem, em 1944, no livro “A Grande Transformação”, alertou para o fato de que a economia de mercado vinha se tornando uma instituição capaz de subordinar toda a sociedade às suas leis. As relações sociais, “desenraizadas” pelo mercado, segundo ele, se tornariam objetos produzidos para a venda. Podemos pensar que a política, claro, não ficaria de fora, tornando, ela mesma, no jargão da economia, uma commodity.

Foi noticiado no dia 1° de fevereiro, por Edson Sardinha, do site “Congresso em Foco”, que o agora ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia não abriu um processo de impeachment contra o presidente da República Jair Bolsonaro, mesmo diante da abundância de crimes de responsabilidade acumulados por ele. Segundo um deputado do círculo de Maia ouvido pelo jornalista, o impedimento não seria levado a diante pois traria “profundo impacto no mercado”. O deputado afirma ainda que o ex-presidente da Câmara “sempre foi um cara do mercado”.

Podemos nos perguntar sobre que “mercado” é esse. Como uma entidade tão distante de nós, intangível, abstrata, imprecisa e instável pode ser capaz de tomar, de forma tão direta, a condução de nossa democracia, interferindo em nossas vidas cotidianas? Polanyi disse que tal redução da humanidade ao poder de produção do mercado e a fé cega no “progresso econômico” levaria a uma “demolição da sociedade”. Demoliria a nossa democracia?

Paulo Augusto Franco, (@francoguto), antropólogo e pós-doutorando (USP).

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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