Por Lilia Moritz Schwarcz
Publicado originalmente em 05/06/2023
#Repost @liliaschwarcz | Vamos falar de “presidencialismo de coalização”, essa expressão criada pelo cientista político Sérgio Abranches em 1988. Ela remete ao ato político de fechar acordos e fazer alianças entre partidos políticos e forças políticas de diferentes tendências, sempre visando um objetivo específico.
Em geral a manutenção de postos no governo. Essa era uma realidade em 1988, no ano da Constituinte, pois ninguém tinha maioria no congresso, e continua sendo hoje em dia. Por isso, o baixo clero do centrão ganha cada vez mais força: todos recorrem a eles para “fechar a conta”.
Pois bem. O presidente Lula afirmou nesta sexta-feira (dia 2 de junho) que, como sua base de apoio no Congresso é insuficiente para a aprovação de projetos, o governo precisa conversar com adversários para conquistar votos.
Conversar com quem não gosta dele, acrescentou. A fala se explica por conta de uma série de derrotas na Câmara, que o presidente vem sofrendo, e um verdadeiro sufoco que experimentou para aprovar a MP (medida provisória) que organiza, com reveses para o governo, a estrutura dos ministérios.
Sem ela o governo correria o risco de perder a MP que reestrutura a Esplanada e mantém os atuais 37 ministérios. Ela só foi aprovada depois de muita negociação e a liberação de R$ 1,7 bilhão em emendas parlamentares no último dia do prazo.
“Você ganha uma eleição e depois você precisa passar o tempo inteiro conversando para ver se você consegue aprovar alguma coisa. E aí, você não tem que procurar o amigo, não tem que procurar o Vicentino que já é voto nosso, você tem que conversar com quem não gosta da gente, tem que conversar com quem não votou na gente”, disse Lula
Não há como negar o realismo da fala de Lula. Assim como não há como negar as consequências ruins, dessa troca aberta de votos, em praça pública, para a saúde da democracia.
Mas Lula já provou que não é Bolsonaro e Arthur Lira já teve provas disso. Está ciente que o presidente não fará qualquer negócio. Dê olho nos próximos passos em Brasília.
Lilia Moritz Schwarcz. USP
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.