Wendell F.T. Santos, Camila Dellagnese, Juliana Veríssimo

Publicado originalmente em 11/12/2023

#AbreAspas | O crime-desastre que carcomeu o subsolo da capital alagoana teve novo capítulo com o iminente colapso da mina 18 localizada no bairro do Mutange. O modus operandi da empresa Braskem reatualiza nosso passado colonial e demarca a permanência de processos extrativos e violentos (humana e ambientalmente) cujo resultado tem sido a aniquilação do outro por intermédio da racialização e da degradação ecossistêmica.

A mineração, por mais evidente que seja, tem tido uma presença surda na paisagem brasileira (Wisnick, 2018). No caso da Braskem em Maceió estamos além, porque aqui a empresa tenta silenciar a dissidência e criminalizar os atingidos. O emprego de uma “ciência de consultoria” parcial na (re)produção dos dados, insere não somente os atingidos diretos, mas toda a cidade em um cenário de incerteza e intransparência.

O último relatório “RELATÓRIO MENSAL SOBRE ANÁLISE DA DEFORMAÇÃO DO SOLO NA REGIÃO DE MACEIÓ” compreende a coleta de dados até março de 2023, de lá pra cá, não há acesso a nenhuma atualização. O Mapa de criticidade, que não recebia atualizações desde 12/2020, e que teve a versão 5 divulgada no dia 30/11/2023 na forma de reportagem, não contempla regiões já identificadas como problemáticas.

É urgente e necessária a divulgação do conjunto de dados referentes ao monitoramento das deformações da superfície para que sejam analisados por pesquisadores e peritos independentes (Manifesto pesquisadores, 02/11/2023).

Esse crime ainda sem castigo exemplifica como a função dos poderes estatais e corporativos tem sido, mais do que nunca, possibilitar a extração, o que exige uma intensificação da repressão.

O desastre da Braskem segue em andamento e produzindo inúmeras violações de direitos dentre elas a desinformação sistemática para minimizar os danos e a responsabilidade da empresa. Nesse cenário, o estado de exceção tem se tornado a norma, e o estado de emergência, permanente, trata-se de fazer pleno uso da lei com o intuito de multiplicar os estados de não direito e de desmantelar todas as formas de resistência (Mbembe, 2021). Isso a Braskem não explica!!

Wendell Ficher Teixeira Assis, Camila Dellagnese, Juliane Veríssimo. UFAL (@ufaloficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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