Por Clarisse Jabur
Publicado originalmente em 18/06/2022
#AbreAspas | O Bruno é insubstituível. Um indigenista completo, com várias habilidades que esse ofício tanto requer: andar no mato (com tudo que isso implica), conhecer e admirar as culturas indígenas, realizar interlocução com os órgãos públicos, falar línguas indígenas, conhecer a legislação indigenista e da administração pública, conhecer os princípios de Antropologia, Biologia, Geografia, ser didático, entre outros atributos. Mais do que tudo, Bruno amava os povos indígenas e era amado por eles.
É aquele que toma cipó, cheira rapé, canta e troca longas conversas sobre política, entrecortadas por risadas ruidosas. O indigenismo não é um trabalho qualquer, muito menos uma aventura, é a nossa vida.
Mas Bruno era principalmente habilidoso em articular e liderar. Por isso vemos uma mobilização de milhões. É do tamanho dele. Meu amigo e colega de luta na Funai há 10 anos, Bruno continuará vivendo na floresta, lugar onde mais gostava de estar. Ele continuará vivendo nos Kanamari, nos Matses, nos Marubo, nos Korubo, nos Matis, nos Tsohom-Djapa, e em todos os povos indígenas isolados. Seu espírito irá emanar nas águas e nos galhos dos igapós e cruzará até o mar. Também viverá em cada um de nós que continuaremos sua luta.
Hoje, os povos do Vale do Javari devem estar tomando ayauasca para sua alma ser direcionada para o caminho certo. E nós, brancos, devemos estar de mãos dadas com eles, continuando a sua força.
Clarisse Jabur. Indigenista especializada da Funai (de licença), lotada na Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato. Doutoranda em Antropologia no Programa de Pós Graduação em Antropologia Social – UNB (@unb_oficial)
A ANPOCS convida especialistas para se pronunciarem em seu nome sobre o bárbaro assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips.