Por Rafael Sampaio

Publicado originalmente em 10/02/2021.

Há pelo menos cinco anos, o fenômeno das fakenews, em específico, e da desinformação, em geral, assusta pesquisadores, governos, sociedade civil e entidades científicas pelo mundo. No Brasil, apesar de ser lugar-comum o uso de boatos e “notícias falsas” em eleições, a disputa presidencial de 2018 marcou tanto uma maior profissionalização quanto maior viralização desses materiais, que agora pareciam não necessitar ter qualquer relação de verossimilhança, a exemplo de kit-gays e mamadeiras de piroca.

Todavia, as eleições de 2018, em termos de Brasil, mostraram-se apenas uma caixa de pandora do poder e da falta de limite da desinformação. A pandemia causada pelo novo coronavírus é a demonstração cabal disso. Toda sorte de notícia falsa e produtos de desinformação foram massivamente criados para serem distribuídos em grupos de Whatsapp, Telegram e nas redes sociais digitais, buscando ofertar falsos argumentos contra o isolamento social, o uso de máscaras e a necessidade de lockdowns, além do reforço do uso de remédios para o tratamento precoce sem qualquer confirmação científica.

Ademais, não satisfeito, tal aparato foi apontado para as vacinas, para prejudicar um (oportunista) governador opositor do governo. Décadas de campanhas de conscientização e de planos bem elaborados para a vacinação da população, foram fortemente minados por essas ações torpes e coordenadas de desinformação.

Tudo para depois ser alterada a configuração da máquina, ao se notar um novo clima de opinião. Agora, a vacina é valorizada e o governo sempre esteve envolvido em seu desenvolvimento. No limite, as consequencias de falas e ações políticas são diminuídas, minimizadas.

O poder dessa comunicação política digital suja precisa estar mais ao centro da atenção das ciências sociais como um todo. Parece, infelizmente, inexorável que a sua utilização nas eleições de 2022 não é mais um “se”, mas sim “em que medida e com que efeitos”.

Rafael Sampaio. Professor de Ciência Política da UFPR.

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

Deixe um comentário