Por Marina Bay Frydberg
Publicado originalmente em 16/02/2021
O carnaval dos blocos de rua não poderia acontecer em outro lugar que não a rua. Foi na rua onde os primeiros blocos surgiram, no final do século XIX e início do século XX, e onde continuam a surgir, a partir do seu vertiginoso crescimento no início dos anos 2000. E é somente na rua que o carnaval pode permanecer acontecendo, respeitando sua dinâmica e sua identidade. O carnaval dos blocos de rua é a tomada política da cidade pela festa.
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Contudo, a pandemia de COVID-19 forçou o cancelamento oficial da festa carnavalesca em 2021, afinal, carnaval é aglomeração e hoje, mais do que em outros tempos, pode ser visto como perigoso. Antes do poder público tomar qualquer decisão sobre o cancelamento da festa, diversos blocos e associações carnavalescas já tinham definido que não seria possível construir um carnaval seguro, sem vacina para todas e todos.
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O carnaval dos blocos de rua, que encontra-se cada vez mais organizado – em ligas, associações e espaços institucionalizados ou não de debate e tomada de decisões –, vem reconhecendo e reivindicando seu papel como dispositivo de mobilização social e política. A crescente politização dos blocos de rua tem pautado discussões em torno das questões de gênero, da população LGBTQIA+ e reflexões sobre o cenário político nacional, o que fez com que o carnaval se fortalecesse como um espaço de disputa política e por narrativas.
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O carnaval dos blocos de rua, que nos últimos anos veio lutando pelo direito à festa, como direito de ocupação da cidade e direito cultural, este ano está lutando pelo direito de ficar em casa como direito à vida. O carnaval dos blocos de rua consolida-se, assim, como espaço de luta por direitos. Para os blocos de rua, que sempre foram políticos, não ter carnaval de rua este ano também é.
Marina Bay Frydberg. Professor do Departamento de Arte da Universidade Federal Fluminense, no curso de Produção Cultural e no Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades.
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.