Por Lia Rocha

Publicado originalmente em 17/03/2021

Marielle Franco era vereadora do Rio de Janeiro quando foi assassinada aos 38 anos, na noite de 14 de Março de 2018. Com ela morreu Anderson Gomes, seu motorista. Hoje, passados mais de três anos de sua morte, os acusados pelo crime, ex-policiais militares, ainda não foram julgados, e nada se provou sobre quem mandou matar Marielle. Ainda há muito a saber sobre as circunstâncias de sua morte. Mas há ainda mais a saber sobre sua trajetória, que revela os entrecruzamentos de diversas dimensões da desigualdade brasileira – mas também a potência de seu povo.

Marielle nasceu e foi criada na Favela da Maré, bairro do Rio de Janeiro onde moram mais de 140 mil pessoas. Com habitantes em sua maioria negros e negras, as favelas cariocas e seus moradores são estigmatizados, criminalizados e vitimizados pela violência, sobretudo a estatal. Por isso também a história das favelas é uma história de resistência – que se refletiu diretamente em sua trajetória. Socióloga e mestre em Administração Pública, Marielle foi ativista comunitária e coordenou a Comissão de Direitos Humanos da Alerj, antes de ser eleita vereadora em 2016, recebendo 46.502 votos – a 5a maior votação naquele pleito. Sua atuação firme e corajosa contra as injustiças sociais e os poderes constituídos é, possivelmente, a razão para seu assassinato.

Marielle era mulher, negra, bissexual em um relacionamento lésbico, favelada. Carregava em seu corpo os principais marcadores das vidas “matáveis”, indesejadas. E assim trazia em si os nossos desejos por uma outra política, um outro mundo. Quando a mataram pensaram interromper o que ela significava – mas, como vimos, Marielle é semente, e sua luta continua conosco. Exigimos justiça e queremos saber: quem mandou matar Marielle?

Foto: Leon Diniz (@diniz_leon)

Lia Rocha (@liarocha08). Professora do Departamento de Sociologia da @uerj.oficial.

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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