Por Bruna Lívia Barros Guandalim

Publicado originalmente em 05/03/2021

#ANPOCSPrimeirasPesquisas: A epidemia de transtornos mentais nos centros urbanos é sintomática do nosso atual momento histórico. A partir de meados do século XX a sociedade global passou por diversas transformações sociais. Um dos fatores que desencadearam mudanças significativas na configuração social diz respeito à desregulamentação efetuada por políticas neoliberais.

A desregulamentação ocorre com a retirada da atuação do Estado na economia e das políticas sociais. Através do neoliberalismo, ideias como “meritocracia”, “sociedade enquanto indivíduos concorrentes” e “hiperindividualismo” se inserem como valores sociais. A sociedade neoliberal valoriza condutas como o esforço individual para atingir objetivos pessoais. O indivíduo está “livre” para se autorrealizar e o cansaço surge como um sinal de esgotamento físico e mental.

Padecemos o que agora pode ser chamado de “doença da responsabilidade”. Importante também salientar a aceleração da sociedade que penetra nos diversos aspectos da vida humana, alterando e acelerando a noção temporal. Acelerados, estamos em busca da conquista social; e, deprimidos, ficamos por nos ver sós num mundo de concorrentes e sem vínculos, lutando por um “lugar ao sol” num mar de oportunidades que o mercado diz ofertar.

Por fim, a crescente incidência dos transtornos mentais na contemporaneidade pode sinalizar um diagnóstico de uma sociedade que adoece a si mesma quando acelera-se num ritmo frenético; e se desprende de vínculos familiares e afetivos, se deprimindo por ter frustrados anseios irreais alimentados por uma sociedade que tem como axioma o consumo, o progresso e a acumulação do capital acima de tudo e de todos.

Bruna Guandalim (@bguand). Mestranda em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação da Unesp/Araraquara

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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