Por Samantha Quadrat
Publicado originalmente em 31/03/2021
Um dos principais elementos de disputas sobre o passado da ditadura civil-militar diz respeito aos lugares de memória do período. A identificação desses espaços tem sido feita desde a própria ditadura, mas ganhou destaque durante a atuação da Comissão Nacional da Verdade.
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Já a recuperação tem sido mais difícil e bastante lenta. Alguns deles, inclusive ex-centros de prisão tortura e extermínio, seguem ocupados por forças de segurança, como o DOI-CODI do Rio de Janeiro, por seus proprietários, como a Casa da Morte, em Petrópolis, ou ainda voltaram à função original, como o Caio Martins, em Niterói.
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Temos ações ainda tímidas em homenagem aos mortos e desaparecidos. No Rio de Janeiro, local onde moro, ruas e praças em bairros afastados receberam seus nomes, monumentos a Edson Luís, Rubens Paiva e Stuart Angel, todos vítimas da ação da repressão em circunstâncias e momentos diferentes da ditadura, estão em espaços relacionados à trajetória de cada um, seja em vida ou na morte.
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É preciso e urgente patrimonializar essa memória ainda incomoda e em disputa no Brasil. É preciso transformar esses espaços em lugares de consciência e abri-los para a visitação, pensar roteiros escolares e descobrir em cada cidade onde está essa memória, do que se fala, do que se silencia.
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Acredito que a educação em direitos humanos, onde esses lugares teriam uma ação central, é um dos principais passos para a consolidação da democracia e para a construção do tão desejado nunca mais.
O Ministério da Defesa, representando a presidência, brigou (e levou!) na justiça o direito de celebrar o 31 de março. Será a primeira vez no período democrático que o golpe será oficialmente comemorado pelo governo. Eles vão celebrar, mas nós temos a obrigação de lembrar, de resistir, de honrar os mortos e desaparecidos e de demonstrar que uma ditadura atinge a toda a sociedade.
Texto e Fotografia: Samantha Quadrat (@uffoficial), professora de História da América da UFF
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.