Por Pedro Abramovay

Publicado originalmente em 12/03/2021

Bolsonaro sempre sofreu oposição. Seu discurso raivoso e extremista é construído para fidelizar ódios e amores. Após dois anos de governo, tem popularidade baixa se comparado com antecessores.

Além disso, seja na agenda ambiental, no vigilantismo, na agenda ultra-punitiva ou na ideologização da educação, sociedade civil organizada e imprensa conseguiram se valer dos canais institucionais (Congresso e STF) para impedir que o governo atingisse seus objetivos em diversas áreas.

Mas o governo passou os últimos 26 meses e 10 dias sem uma oposição político-partidária. Se a oposição, ampla na sociedade, conseguia se utilizar do Congresso e do STF para barrar algumas agendas do governo, se mostrava absolutamente incapaz de fazer aquilo para o que as estruturas partidárias servem. Transformar ideias e ação política em… votos.

Talvez o maior exemplo disso venha do Auxílio Emergencial. O governo fez o que pôde para que o Auxílio não existisse ou para que fosse muito menor. Foi a oposição no Congresso, empurrada por uma série de movimentos da sociedade civil que criou o que essa semana Bolsonaro chamou de “o maior programa social do mundo”. Acontece que, sem as estruturas capazes de transformar essa ação política em votos, o Presidente nadou de braçada sobre a conquista da oposição e viu seu apoio popular crescer em função do pagamento do Auxílio.

Em duas horas de discurso Lula, livre de suas condenações, inaugurou essa oposição política. Inaugurou a capacidade de transformar a resistência aos inúmeros retrocessos do governo Bolsonaro em força eleitoral.

Até essa semana existia a chance de Bolsonaro ganhar em 2022 por WO. Hoje está claro que haverá adversário.

Imagem: @franciscotebet

Pedro Abramovay. Doutor em Ciência Política pelo @iesp.uerj.

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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