Por Hélio Menezes
Publicado originalmente em 24/03/2021
“Um dia apoderou-se de mim um desejo de escrever: – Escrevi –”.
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Nascida em Sacramento (1914), a escritora Carolina Maria de Jesus foi autora do maior best-seller da literatura brasileira, Quarto de Despejo (1960), dos livros Casa de Alvenaria, A Felizarda (lançado sob o título Pedaços da Fome, a contragosto da autora) e Provérbios, além de outros tantos publicados postumamente, e de um conjunto impressionante de mais de 5 mil páginas manuscritas, ainda inéditas. Foi também cantora e compositora, com disco homônimo ao primeiro livro, poeta, dramaturga e artista com incursões circenses e performáticas.
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Recém reconhecida Dra. Honoris Causa, de Jesus foi uma escritora-intérprete do país, tendo transformado suas reflexões sobre (e a partir da) experiência vivida de mulher negra, empobrecida, migrante e mãe-solo, numa linguagem a um só tempo lírica e crua, capaz de vocalizar vivências coletivas complexas, nas quais pobreza, falso-progresso e desigualdade conformam faces de uma mesma realidade.
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Referência fundamental na gênese de uma literatura preta, periférica e realizada em primeira pessoa, de Jesus abriu uma fenda na intelectualidade brasileira – tão branca, tão rica, tão masculina -, significando uma verdadeira revolução. Quem pode falar? Quem pode escrever? Quais narrativas são merecedoras de interesse? Depois de Carolina, essas perguntas nunca mais receberam as mesmas respostas.
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Hélio Menezes (@helio.menezes). Curador de Arte Contemporânea do Centro Cultural São Paulo (@ccsp_oficial), mestre e doutorando em Antropologia Social pela @usp.oficial. É co-curador, com Raquel Barreto (@eu_raquelb), da exposição “Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros”, com abertura prevista para este ano no @imoreirasalles.
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.