Por Camila N. Dias e Luiz F. Paiva

Publicado originalmente em 31/05/2021

#AbreAspas | As pesquisas nas Ciências Sociais demonstraram que a violência não é o resultado de uma equação de problemas sociais ou determinada pela pobreza material. Não obstante, as pesquisas também demonstraram a complexidade de dinâmicas sociais que, em diferentes circunstâncias, criaram as condições objetivas para que determinadas maneiras de fazer alguns crime prosperassem em nosso País.

Em vários locais em que a pobreza prosperou o Estado ofereceu mais violência por meio de suas forças policiais e como contraponto sentimentos de revolta e indignação alimentaram o protesto, a raiva e a reação contra o Estado. Jovens pobres e negros foram alcançados e armados por grupos que os convenceram da injustiça que, cotidianamente, vivem e da necessidade de reagir.

As formas de comunicação entre a prisão e a rua possibilitaram um enfrentamento organizado das injustiças não para criar outro sistema político, mas para movimentar as engrenagens de uma sociedade de mercado que também se move em função das economias ilegais da venda e consumo de drogas e armas. O sucesso das facções criminosas está na capacidade de gerenciar mercados ilegais e, também, na produção de imagens sociais que servem de contraponto às desigualdades e injustiças constituintes da sociedade brasileira.

A altíssima taxa de letalidade policial, as altas taxas de encarceramento, a recente chacina na favela do Jacarezinho no RJ como o exemplo mais recente de práticas policiais que perpassam a “democracia brasileira”, e as práticas criminais relacionadas ao tráfico de drogas e aos roubos e furtos, são fenômenos que se articulam e ganham dinamicidade própria conformando um campo social, econômico, político e moral.

Camila Nunes Dias (UFABC, @ufabc) e Luiz Fábio Paiva (UFC, @ufcinforma)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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