José Pinto da Cunha e Maísa Faleiros da Cunha

Publicado originalmente em 01/05/2021

#AbreAspas | Como tragédia de uma morte anunciada, o Censo Demográfico foi cancelado. A única razão é a falta de recursos que foram drenados para “emendas parlamentares”, deixando de beneficiar toda a nação, dos estados e dos municípios. A comunidade científica nacional se mobilizou intensamente no “primeiro ato” dessa insensatez quando, em 2019, o Ministro de Economia já se queixava do tamanho do nosso Censo Demográfico. Acreditávamos ter vencido aquela etapa ao garantir um Censo com um questionário que, mesmo com cortes, preservava o que temos de melhor e mais importante como fonte de dados de nossa população.

O que leva um governo a desdenhar de uma fonte tão fundamental como o Censo Demográfico? Quantos somos? Como nos distribuímos no território brasileiro? Qual é a estrutura etária da população ou sua composição socioeconômica, características centrais para qualquer planejamento sério visando a implementação de políticas públicas? O que dizer a respeito da população nos municípios ? Impossível saber esta e outras questões sem a representatividade espacial de um Censo Demográfico! Tivemos uma reação importante: o Supremo Tribunal Federal, por uma decisão monocrática do Ministro Marco Aurélio Mello, exige que o governo retome a realização da operação censitária.

Contudo, muito provavelmente tal exigência será ineficaz já que, será muito difícil que o processo seja retomado com o seu cronograma original. Ou seja, é difícil imaginar que tamanha e complexa operação possa ser retomada ainda este ano. Por ora, continuamos navegando às escuras com dados de mais de uma década e assolados por outra tragédia trazida pela pandemia. É triste reconhecer, mas o cancelamento do Censo parece ser apenas mais um capítulo do desmonte que vimos assistindo das pautas civilizatórias tão duramente conquistadas nas últimas décadas.

José Pinto da Cunha (Prof. Titular do IFCH/Ex-coordenador do NEPO) e Maísa Faleiros da Cunha (Coordenadora do NEPO)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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