Por André Kaysel

Publicado originalmente em 14/06/2021

#AbreAspas | Em 06/06, o Peru celebrou o 2º. Turno de suas eleições presidenciais. Após um 1º. Turno, ocorrido em 11/04, bastante fragmentado – com 18 candidaturas -, a eleição se polarizou entre as candidaturas do esquerdista Pedro Castillo (Partido Perú Libre – PPL) e da ultra-direitista Keiko Fujimori (Fuerza Popular – FP). Professor rural que primeiro ganhou destaque em uma greve de docentes em 2017, Castillo surpreendeu ao chegar à frente no 1º. Turno, com 19% dos votos, enquanto a já experimentada Fujimori, candidata pela terceira vez, ficou em segundo, com 13%.

Ressalte-se que a somatória dos dois mal atingia um terço do eleitorado, o que indicava que o 2º. Turno seria decidido pela maior rejeição: o anticomunismo, no caso de Castillo e o anti-fujimorismo, no caso de Keiko, em função da herança de seu pai, o ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), condenado a 25 anos de prisão por corrupção e crimes de lesa-humanidade. Na sexta-feira, dia 11/06, com 100% das atas apuradas, Castillo venceu com cerca de 50,2%, enquanto Fujimori obteve 49,8%.

Sublinhe-se o contraste entre dois resultados locais. Se Fujimori obteve 64% dos votos em Lima, Castillo atingiu 83% dos votos em Cuzco, antiga capital do Império Inca e região de forte presença quéchua. Assim, tem-se o retrato de um país profundamente dividido em termos regionais, étnico-raciais e de classe, clivagens que remontam ao passado colonial.

A candidata da direita, desde que se consolidou a dianteira de seu adversário, passou a denunciar uma suposta fraude, sem apresentar provas, com vistas a reverter o resultado na justiça eleitoral peruana. Enquanto líderes da esquerda latino-americana apressaram-se em felicitar Castillo, a direita regional espera que Fujimori logre reverter o resultado.

Confirmado Castillo, resta saber se terá condições de governabilidade, uma vez que seu partido obteve apenas 37 cadeiras em um total de 130 no Congresso.

André Kaysel. Professor do Departamento de Ciência Política da Unicamp.

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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