Por Lilia M. Schwarcz e Paulo A. Franco
Publicado originalmente em 25/05/2021
#AbreAspas | A fotografia acima foi feita num almoço organizado por Nelson Jobim, ex-ministro do STF. Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva posam se cumprimentando. “Muita democracia no cardápio”, diz a legenda. Ambos seguem, no gesto e no uso de máscaras, os protocolos sanitários contra a Covid-19. No dia 21 de maio, ao ser publicada pelas redes sociais, essa imagem causou surpresa e esteve entre os assuntos mais comentados nas redes sociais, ganhando manchetes nos noticiosos do país.
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Imagens nunca são ingênuas. Fotos como essa funcionam como verdadeiros atos simbólicos que carregam e expressam intenções. Esses atos têm a potencialidade de produzir muitos sentidos, informar ações, decisões e até mesmo influenciar nos rumos de um país.
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A cena em tela produziu uma diversidade de interpretações e efeitos. Muitos a receberam como uma espécie de acordo entre ambos em oposição ao obscurantismo retrógrado, autoritário e negacionista que invadiu Brasília nos últimos anos. Outros enfatizaram que a cena não teria sido montada para expressar uma possível aliança político-partidária, mas sim para transmitir uma causa comum aos dois retratados: a defesa da democracia. Parte do público analisou que a imagem enfraqueceria a dita “terceira via” na corrida presidencial de 2022, ou mesmo as chances do PSDB, partido de FHC. Já o presidente Bolsonaro, claro, tratou de ironizar a cena, provando, por contraposição, que uma imagem pode ter muito poder.
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O fato é que ainda ouviremos muito sobre essa foto. Os seus sentidos serão disputados de inúmeras formas. E, se os cenários permanecem cheios de incerteza, uma coisa é possível adiantar: a surpresa da imagem com dois ex-presidentes, politicamente rivais, anuncia a urgência de nos reconectarmos aos valores da democracia e da cidadania, contra as ameaças do modelo obscurantista de Bolsonaro.
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Foto: Ricardo Stucker (Reprodução Twitter)
Lilia M. Schwarcz (antropóloga, historiadora, professora da USP e de Princeton, colunista do jornal Nexo e integrante da ANPOCS Pública) e Paulo Augusto Franco (antropólogo, pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Antropologia da USP e integrante da ANPOCS Pública)
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*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.