Por Celso Castro

Publicado originalmente em 26/05/2021

#AbreAspas | O general Pery Bevilacqua, ministro do STM cassado pelo AI-5, disse certa vez que quando a política entra no quartel por uma porta, a disciplina sai por outra. O mundo da caserna é e deve ser diferente do mundo da política. As regras são outras, bem como a cosmologia de seus integrantes. No primeiro caso, eles portam armas e preparam-se para o combate; no segundo, as “armas” são a Constituição, as leis e o voto, numa disputa democrática.

Nós, cientistas sociais, precisamos compreender melhor o “mundo militar”, com suas características específicas. Muito já foi feito, e temos o bom exemplo da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, a ABED, criada na reunião da ANPOCS em 2005, e que tem ajudado a organizar esse campo de estudos. Mas ainda há muito por fazer.

Hierarquia e disciplina são pilares da instituição militar. Os cadetes da AMAN leem todo dia, em letras grandes, no pátio principal, a frase: “Cadete! Ides comandar, aprendei a obedecer.” Mais que a frase, aprendem que obediência não significa subserviência: está intrinsecamente ligada à ideia de “disciplina consciente”.

Após três décadas de afastamento do centro da cena política, alguns militares da ativa voltaram a cruzar uma linha divisória que deveria ser mantida a todo custo. Politizar as Forças Armadas é algo que deve ser evitado, inclusive pelo dano que causa à própria instituição. A história do Brasil infelizmente ilustra isso com abundância de exemplos. Atos de alguns indivíduos afetam negativamente a vida de muitos outros que cumprem suas missões e obrigações devidas. Militares da ativa não podem frequentar palanques políticos sem infringirem as regras básicas da instituição, e sem serem por elas punidos. O “B” que as Forças Armadas trazem em suas siglas é de Brasil, não de qualquer outro abecedário.

Celso Castro. Antropólogo e historiador

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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