Por Felipe Comunello
Publicado originalmente em 23/07/2021
#AbreAspas | Nesta semana novamente registraram-se temperaturas baixas em várias localidades do país. Elas são acompanhadas de belas imagens produzidas por profissionais que direta ou indiretamente promovem o turismo e pelos próprios turistas. As regiões serranas do sul do país nessa época do ano chegam a ser destaque em programas televisivos de alcance nacional. O ponto alto é a ocorrência de neve que, além das imagens, também torna-se objeto de brincadeiras para moradores e turistas.
Este fenômeno climático acontece com certa regularidade em diversas partes dos três estados do sul e eventualmente também em alguns do sudeste. No entanto, desde o início dos anos 1990 emerge um mercado turístico, explorado por atores públicos e privados em diferentes escalas. Cabe destacar as operadoras de turismo que vendem estes “destinos turísticos” em todo o território nacional e até no exterior. Invariavelmente, este mercado explora o frio como um outro Brasil, do qual também fariam parte elementos como arquitetura, comida, bebida, que remetem a algum país ou região do Norte global, com um traço distintivo: população de pele branca.
Diferentemente do frio e da neve, essa celebração de um Brasil não tropical é um fenômeno social, que surge e se perpetua com características semelhantes às demais manifestações do chamado racismo estrutural. O seu estudo merece aprofundamento. Satisfazer-se com a caricatura, como muitas vezes é vista a celebração do frio por turistas ou promotores do turismo, é um limite que precisa ser ultrapassado. Principalmente porque faz-se necessário discutir seriamente os efeitos do frio nestas regiões.
São necessárias políticas públicas que evitem ou minimizem o sofrimento, especialmente da população de rua que enfrenta a realidade da morte por hipotermia. Analisar o frio sob a ótica das ciências sociais, coloca-se, portanto, como uma agenda de pesquisa.
Texto e foto: Felipe Comunello (@felipecomunello). Universidade Federal do Rio Grande do Sul (@ufrgsnoticias)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.