Por Rennan P. Loureiro e Rafael Mesquita

Publicado originalmente em 08/07/2021

#AbreAspas | Ao invés de se unirem para elaborar respostas globais à nova pandemia, os membros da Assembleia Geral da ONU replicaram faccionalismos clássicos ao debater o COVID-19. A conclusão é do paper “Analysis of the COVID-19 Pandemic Theme at the UN General Assembly” (Rennan Loureiro e Rafael Mesquita, Departamento de Ciência Política UFPE), aceito para a 2021 Annual Meeting of the American Public Health Association em outubro, que analisou 86
draft resolutions relacionadas à pandemia apresentadas na Assembleia Geral entre 2020 e 2021, dentre outros documentos.

O estudo revela que diversas propostas, ligadas direta ou tangencialmente ao COVID-19, incitaram antagonismos tradicionais, como entre EUA e Cuba com respeito a embargos (draft resolution A/74/L.92), EUA e China acerca das origens do vírus (A/74/L.93), Armênia e Azerbaijão (A/S-31/PV.1), e países conservadores e progressistas em se tratando de temas ligados à saúde da mulher (A/C.3/75/L.1 e L.6).

Além destes duelos, o padrão agregado de endosso às propostas revela uma polarização dos 193 membros da Assembleia. Por meio de análise de rede e detecção de clusters, foram identificados dois grupos, correspondendo aproximadamente ao Sul Global (114 membros) e Norte (80). A separação é semelhante à encontrada na sessão pré-pandemia em 2019 e em debates da década passada em temas de saúde.

A conclusão é que a incidência da pandemia, apesar de nova e global em suas consequências, não induziu os membros da Assembleia Geral a maior consenso. O tema não foi tratado de forma diferenciada, recebendo um tratamento politizado segundo facções diplomáticas tradicionais.

A pesquisa foi fruto de Iniciação Científica CNPq-Propesqi-UFPE 2020-21. – @propesqi.ufpe

Rennan P. Loureiro e Rafael Mesquita. Departamento de Ciência Política UFPE (@cienciapoliticaufpe)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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