Por Daniel Hirata
Publicado originalmente em 23/06/2021
#AbreAspas | Recentemente, fotos divulgadas pela polícia civil do Rio de Janeiro para a imprensa mostram o corpo de Wellington da Silva Braga, o Ecko, alvejado e coberto com sangue e parecem querer transmitir uma mensagem triunfal do combate às milícias.
De fato, o bonde do Ecko é a maior dentre as muitas milícias presentes no Estado do Rio de janeiro, que em seu conjunto já controlam 57,5% do território da cidade, onde moram mais de dois milhões de pessoas. Nesse extenso controle territorial e populacional, milicianos atuam em mercados criminais importantes, mas boa parte do seu lucro vem de negócios entre a legalidade e a ilegalidade, onde situa-se o mercado imobiliário, o transporte coletivo, os serviços de lixo, água e luz. Nenhum desses mercados urbanos poderia ser explorado de forma coercitivamente monopólica não fosse a notória participação de diferentes agentes do Estado.
Para enfrentar tais arranjos políticos e econômicos, a responsabilização judicial dos atores estatais envolvidos e a atuação sobre a regulação desses mercados seria uma alternativa mais eficiente e menos letal que as ações puramente repressivas. Mas a brutalidade nas operações policiais, historicamente ineficazes para o enfrentamento das facções do tráfico de drogas e ainda menos efetivas com relação às milícias, continua sendo a única estratégia utilizada pelo governador e suas polícias.
O Rio de Janeiro ainda vive sob o impacto e o trauma da chacina no Jacarezinho, a operação policial mais letal da história, com 28 mortos. Sem atuar sobre os arranjos políticos e econômicos desses grupos, que permanecem intocados, a polícia só tem a oferecer novos cadáveres. Não há mais tempo a perder. É imperativo que o controle do crime se faça em coadunação com o controle democrático da atividade policial.
Daniel Hirata. GENI/UFF (@uffoficial)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.