Por Isabela Kalil

Publicado originalmente em 19/06/2021

#AbreAspas | Em 19/06, teremos as mobilizações do #19JForaBolsonaro e algumas lições podem ser aprendidas dos atos #29MForaBolsonaro (29/05). Enquanto os atos de apoio ao presidente têm recebido ampla divulgação na mídia, o 29M recebeu uma cobertura pouco expressiva. Esta cobertura não foi capaz de captar a natureza dos atos — uma reivindicação ampla da sociedade civil em resposta às omissões do governo federal na pandemia.

Diante deste cenário, uma frente que se oponha a Bolsonaro precisa se atentar a três elementos. Primeiro, a articulação das ações no espaço público e no espaço digital. Ou seja, as ações nas ruas precisam reverberar na internet de forma cotidiana. E devem ser capazes de comunicar os riscos que Bolsonaro representa para a saúde pública e para a democracia.

Segundo, a superação do paradigma de mobilizações de rua inaugurado em 2016, em que o número de participantes nos atos é a medida de sucesso e alcance destes eventos. Antes de tudo, as manifestações precisam ser capazes de produzir imagens que possam sensibilizar e comunicar o sofrimento causado pela COVID-19. Um exemplo desta estratégia são os cartazes em que pessoas expressavam suas dores pela perda de parentes e amigos. Estas imagens têm a força de comunicar um sentimento comum e podem engajar aqueles que não fazem distinção entre os atos antidemocráticos do Presidente dos atos que denunciam a morte de meio milhão de pessoas no Brasil.

Terceiro, Bolsonaro se alinha a um projeto transnacional da extrema direita no mundo. A resistência a esse projeto deve se conectar com lutas internacionais, a exemplo do #BLM Black Lives Matter. Além de questões de saúde pública, a pandemia se tornou um cenário oportuno para avançar uma agenda anti-direitos marcada pelo racismo, homofobia, misoginia e violência policial. Além do ataque aos povos indígenas, a destruição do meio ambiente e o acirramento das desigualdades.

Isabela Kalil (@kalil_isabela). Docente da Escola de Sociologia e Política de São Paulo e coordenadora do Observatório da Extrema Direita (OED Brasil)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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