Por Manuela Cordeiro

Publicado originalmente em 10/09/2021

#AbreAspas | O último sete de setembro foi aguardado no país tanto com receio, por parte daqueles que defendem a democracia, quanto com animosidade, por parte daqueles que erroneamente apropriaram o sentido dessa data. Na capital do extremo norte brasileiro, o 27º. Grito dos Excluídos, organizado pela Diocese de Roraima, contou com a participação do Movimento LGBTQIA+, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra(MST), indígenas, grupos feministas, sindicatos e movimento estudantil. O lema “Vida em primeiro lugar” ecoava nas falas de representantes da sociedade civil contra o marco temporal, pela vacinação em massa contra a COVID-19 e também pela saída do atual presidente. Mesmo com provocações verbais dos bolsonaristas que passavam em direção à manifestação pró-governo, ladeados com bandeiras brasileiras, os manifestantes do Grito dos Excluídos não revidaram.

A semana finaliza em Boa Vista com os protestos de muitas e muitos Yanomami pela retirada dos garimpeiros ilegais da maior terra indígena no Brasil. A caminhada foi em direção ao Centro Cívico, onde há o monumento ao garimpeiro, na capital boavistense. Foram empunhadas flechas contra o símbolo que alude à devastação de mais de 500 hectares da TI Yanomami, que trouxe muitas mortes, o avanço da COVID-19 e da malária, sobretudo às comunidades indígenas isoladas.

Um retrato irônico do avanço capitalista opressor às venezuelanas e venezuelanos migrantes era o fato de estarem vendendo, nos dias anteriores ao feriado nacional, bandeiras do Brasil no semáforos de Boa Vista. Aqueles mesmos que são vítimas de xenofobia, em uma capital com índices de votação majoritamente direitista na última eleição federal, forneceram o adereço final à manifestação pró-governo.

Manuela Cordeiro. Professora de Antropologia – UFRR (@ufrroficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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