Por Renzo Taddei

Publicado originalmente em 20/08/2021

#AbreAspas | O relatório do IPCC divulgado na segunda, 9/8, repercutiu fortemente na mídia, em grande medida por ter sido lançado em meio a uma sequência longa de eventos atmosféricos altamente destrutivos em todo o planeta. O relatório traz mensagem com linguagem mais assertiva que nos relatórios anteriores: é 𝙞𝙣𝙚𝙦𝙪í𝙫𝙤𝙘𝙤 que as ações humanas aqueceram atmosfera, terra e oceanos, e mudanças rápidas e generalizadas ocorreram em todo o planeta. Mesmo que se reduza a zero as emissões de carbono, não será possível atingir a meta de 1,5 oC do Acordo de Paris sem emissões negativas, isto é, sequestro de carbono da atmosfera.

A atuação de cientistas sociais em questões relacionadas à dimensão 𝙛í𝙨𝙞𝙘𝙖 do clima, como ela é conhecida e comunicada, é de fundamental importância no contexto presente, e mais pesquisadores precisam dedicar-se a isso. As mudanças climáticas e seus efeitos são tão importantes no futuro do planeta que ser capaz de “ler” o clima passa a ser parte do cabedal básico e fundamental das capacidades das pessoas, e não só dos cientistas. Como é que as pessoas leem o clima? Que papel as ciências atmosféricas, e relatórios como o do IPCC, têm nesse panorama? Para quem, exatamente, relatórios como esse são produzidos? Quais seus efeitos práticos, sociais e políticos, em diversas escalas? A educação escolar científica fornece as bases para essa leitura? Qual o papel de outras formas de conhecimento da atmosfera nos debates correntes? Estas e muitas outras são questões importantes que recaem sobre áreas entendidas como de atuação das ciências sociais; ao mesmo tempo, a própria divisão disciplinaria perde relevância aqui, como mostram as discussões sobre o conceito de Antropoceno. Trata-se de agenda importante e urgente para as ciências sociais.

Renzo Taddei (@renzotaddei). UNIFESP (@unifespoficial)

*Este texto não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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