Por Bruno Viveiros Martins

Publicado originalmente em 07/09/2021

#AbreAspas | O processo de Independência do Brasil, mesmo se tratando de um movimento emancipador, foi marcado pela manutenção das relações políticas, sociais e culturais com Lisboa. O peso da presença lusa, após 1822, foi um fator preponderante nos rumos adquiridos pela nacionalidade brasileira. Essa, por sua vez, não teve por perspectiva a rejeição da monarquia portuguesa como ponto de partida para sua formação. Pelo contrário, pretendeu garantir, ao máximo, as antigas ligações que mantinham os brasileiros fiéis ao “sangue lusitano”.

A nova ordem nacional não surgiu da completa ruptura em relação a Portugal, mas da aproximação entre esses dois mundos que constituíam a “unidade nacional luso-brasílica”. A reflexão acerca dos marcos da Independência – como o “Dia do Fico” em 9 de janeiro, os Decretos de 1 e 6 de agosto de 1822 que, respectivamente, proclamavam a “independência política-constitucional” e a anunciaram “às nações amigas”, assim como o próprio 7 de setembro – deixam claras as divergências das elites brasileiras em relação ao projeto de recolonização do Brasil das Cortes Constituintes de 1820.

Contudo, a análise do processo histórico possibilita a discussão sobre quais foram os princípios políticos privilegiados na construção da nação. O confronto de interesses entre as Cortes Portuguesas e os setores dominantes de províncias como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo era uma barreira para a manutenção da unidade luso-brasileira. Porém, a defesa da liberdade e da autonomia política anunciadas pelos partidários da Independência (centralizada na figura do príncipe português d. Pedro) se limitavam à defesa de objetivos particulares e manutenção de privilégios frente o risco de uma mudança mais radical na estrutura social da ex-colônia.

Bruno Viveiros Martins. Doutor em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (@ufmg)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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