Por Aline Radaelli e Júlia Menin
Publicado originalmente em 10/08/2021
#AbreAspas | Divulgado ontem pelo IPCC, o Relatório AR6 quantifica pela primeira vez a influência humana nas mudanças climáticas: dos 1,09ºC que a Terra já aqueceu desde a era pré-industrial, 1,07ºC se devem às ações humanas. No Brasil, uma das maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa é a mudança do uso da terra; ou seja, a perda ou degradação da cobertura florestal para dar lugar às áreas de expansão urbana e agropecuária. Em recente artigo publicado na Nature, a pesquisadora Luciana Gatti e colaboradores indicam que regiões do sul da Amazônia já atingiram o ponto em que uma parcela da floresta já emite mais CO2 do que absorve, devido essencialmente à degradação florestal e ao desmatamento.
Um cenário preocupante para a Amazônia e que ainda pode ser amplificado a partir da aprovação do Projeto de Lei 2.633/2020, também conhecido como “PL da Grilagem”. Encabeçado pela bancada ruralista e pautado em caráter de urgência, o PL propõe alterações nas normas de regularização fundiária em terras públicas. Isto pode, de um lado, estimular a apropriação privada de áreas públicas, refletindo em especulação fundiária e em mais desmatamento, e, por outro lado, incidir no agravamento de conflitos ambientais em terras ocupadas, por exemplo, por povos originários.
O Brasil parece, novamente, andar na contramão do que se tem debatido internacionalmente a respeito de ações para o clima: enquanto existe urgência para ações de países na redução das emissões, estamos na iminência de ter aprovada uma legislação que torna ainda mais vulneráveis nossas áreas de cobertura florestal. E assim, ampliando as mudanças do uso da terra e aprofundando as alterações do clima. O PL foi aprovado no plenário da Câmara em 03 de agosto, e agora segue para apreciação do Senado. Portanto, sigamos atentas/os!
Foto: Felipe Werneck/Ibama.
Aline Radaello (@alinaradaelli) e Lúlia Menin (@juliamenin). Doutorandas em Sociologia no PPGS-UFRGS. Pesquisadoras do grupo Tecnologia, Meio Amiente e Sociedade – TEMAS-UFRGS (@temasufrgs)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.