Por Paulo Ramos
Publicado originalmente em 24/11/2021
#AbreAspas | Há aproximadamente 1 ano o movimento negro brasileiro foi desafiado a uma inversão na sua agenda, substituindo o tom afirmativo e enaltecedor das virtudes e vitórias do povo negro que caracteriza as comemorações do 20 de novembro, pelo tom de reativo e denuncista que caracteriza os protestos de 13 de maio, quando se fala da abolição inacabada.
O que motivou a inversão de tom foi o assassinato de Alberto Freitas, de 40 anos. João Alberto Freitas foi espancado, asfixiado e morto por dois seguranças no supermercado Carrefour em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. As agressões foram filmadas e divulgadas amplamente nas mídias. Uma equipe do Samu tentou prestar atendimento, mas João Alberto morreu no local. Suspeitos, o Policial Militar Giovani Gaspar da Silva e o segurança Magno Braz Borges tiveram a prisão preventiva decretada, Gaspar foi encaminhado para o presídio militar e Magno para prédio da Polícia Civil, autuados em flagrante por homicídio qualificado.
No debate público ainda era possível identificar os efeitos da onda de protestos vinda desde o Black Lives Matter, que desde maio daquele ano tomava as ruas impulsionado pela reação à morte de George Floyd, no EUA, quando os grandes veículos de imprensa noticiaram massivamente as manifestações em várias cidades do mundo. Ambos os casos chamaram a atenção de tal modo que passou a pressionar setores não negros a manifestarem-se contra o racismo e ser “antirracista”, sob a ideia de que não basta não ser racista, é preciso agir contra o racismo.
Este fato mostra que não é apenas a linguagem dos movimentos sociais que circulam o mundo: as técnicas de reprimir e matar pessoas negras, também, dado que Freitas foi morto sob o mesmo tipo de golpe usado contra Floyd – um joelho sobre o pescoço. Além disso, deve-se notar que empresas de segurança privadas reproduzem formas de vigilância e repressão similares às da polícias militares, mesmo quando prestam serviços para empresas como a do Carrefour.
Paulo Ramos (@ramos.pc). Afro CEBRAP (@cebrap50)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.