Por Elizeu Santiago

Publicado originalmente em 22/09/2021

#AbreAspas | A passagem da comitiva do presidente Jair Bolsonaro por Nova Iorque é mais um capítulo sombrio de um governo marcado pela antidiplomacia. Em meio à mais letal pandemia em um século, o desprezo aos protocolos sanitários e a defesa do tratamento precoce sem comprovação científica aumentaram o constrangimento internacional de um país acostumado a ser o exato oposto.

Ao longo do tempo, a nossa diplomacia se notabilizou pelo esforço multilateral construtivo nos mais variados temas da agenda global, da segurança aos direitos humanos. E fazia sentido. É pouco provável que um país periférico, destituído dos ativos de poder de uma grande potência, houvesse logrado uma atuação autônoma e minimamente protagonística longe da articulação multilateral. Não por acaso, o Brasil é o primeiro país a discursar nas tribunas da ONU, produto do reconhecimento internacional ao papel desempenhado pelo país na construção da ordem pós-1945.

O discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral foi a tentativa improvável em conciliar o formalismo protocolar do Itamaraty (a participação nas missões de paz, o acolhimento a refugiados, a reforma do Conselho de Segurança), com o aceno eleitoral para as bases (o socialismo enquanto espantalho, o ataque aos governadores, o discurso moralista e sectário). Ao fim e ao cabo, acentua-se o isolamento internacional de um país cuja tradição diplomática fora marcada pelo discurso cooperativo e universalista. Uma verdadeira corrupção no mundo das ideias.

Elizeu Santiago. CEFET/RJ

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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