Por Catarina Morawska

Publicado originalmente em 18/10/2021

#AbreAspas | A notícia de que o Ministro da Economia e o Presidente do Banco Central possuem empresas offshore levanta um importante debate sobre as vantagens pessoais que vêm obtendo ao manter milhões de dólares em paraísos fiscais enquanto implementam políticas econômicas no país.

É interessante notar um detalhe pouco comentado nesse episódio político: o nome da offshore de Paulo Guedes é Dreadnoughts. A palavra, combinação de dread [temer] e nought [não] – alguém ou algo que não teme –, passou a se referir, a partir da primeira década de 1900, a uma nova classe de navios de guerra, velozes encouraçados de enormes proporções com armamentos de longo alcance. Essa nova tecnologia naval levou a uma corrida armamentista e, no Brasil, defendia-se a necessidade de adquiri-la para proteger a nação de seus inimigos externos e garantir a sua hegemonia continental.

Cem anos depois, a simbologia de uma offshore chamada dreadnoughts não passa desapercebida. A dreadnought de Paulo Guedes serve não para proteger a nação de inimigos externos, mas o seu próprio patrimônio familiar contra um novo tipo de inimigo: os chamados investimentos de risco representados pelos mercados periféricos. A fuga de capitais que assombra os analistas econômicos caracteriza a dinâmica de fluxos de investimentos de que as próprias elites brasileiras fazem parte, operando por meio de uma lógica pontual de análises de retorno sobre o investimento. Sob esse ponto de vista, a nação é apenas mais um player no mercado financeiro global.

Para além da questão legal e ética que deve ser respondida pelo ministro individualmente, as revelações dos Pandora Papers podem abrir caminho para reflexões mais profundas sobre o lugar das elites brasileiras na formação de um projeto de nação que a consolida como um mero mercado de risco na atual geopolítica mundial.

Catarina Morawska. UFSCar (@ufscaroficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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