Por Carlos Reiss
Publicado originalmente em 14/02/2022
#AbreAspas | Desde o fim da 2ª Guerra Mundial, sempre que houve enfraquecimento dos valores democráticos e ascensão de projetos totalitários ou baseados no ódio e no ressentimento, os temas do nazismo e do Holocausto voltaram à tona. Esses “ciclos de intolerância” são desencadeados por vários fatores: crises econômicas e sociais, conjuntura internacional (que funciona como um efeito dominó) e episódios locais.
No Brasil, temos vivido esse processo desde 2013.
À medida que vão se definhando esses pilares e valores democráticos – incluindo o consenso da educação antifascista e os direitos humanos como algo universal e inegociável – abrem-se brechas perigosas para que os discursos de ódio ganhem legitimidade na esfera pública. Nesse contexto, incluímos o crescimento de manifestações nazistas e neonazistas.
Dados alarmantes nos mostram que o antissemitismo cresce no mundo inteiro. Porém, o problema não pode ser tratado de forma isolada. Números que envolvem racismo, intolerância religiosa – principalmente contra religiões de matriz africana, LGBTQIA+fobia, capacitismo, xenofobia e anticiganismo também crescem na mesma proporção. E apesar das particularidades, todos caminham na mesma esfera sociopolítica.
Mais do que o discurso em si, o debate deve estar nos contextos que levam a uma “aceitação” maior ou menor do discurso de ódio. Estamos num momento em que precisamos, o quanto antes, declinar desse ciclo e retornar a patamares recentes em que a deturpação da ideia de liberdade individual não seja utilizada para normalizar manifestações nazistas.
O Museu do Holocausto de Curitiba, instituição à qual tenho honra de coordenar desde a inauguração, há 10 anos, busca transformar cada episódio lamentável numa oportunidade construtiva, e não destrutiva. Somos uma instituição museal voltada à educação e consciente da nossa responsabilidade social.
Carlos Reiss. Coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba (@museudoholocausto).
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.