Por Bárbara Castro
Publicado originalmente em 10/02/2022
#AbreAspas | Reafirmar nunca é demais. Sexo biológico não determina habilidades e competências laborais. O que produz a concentração de homens ou mulheres em determinadas profissões é um processo histórico de separação e hierarquização de trabalhos realizados por homens e mulheres (divisão sexual do trabalho). E a hierarquia gera desigualdade. As imagens e os discursos que circulam para justificar a diferença de valor entre os trabalhos majoritariamente realizados por homens e mulheres atuam na reprodução dessas desigualdades.
Ampla e renomada bibliografia científica tem demonstrado que as representações sobre o trabalho feminino concentram-se na naturalização de competências e habilidades aprendidas e realizadas no espaço doméstico e em sua extensão para o trabalho pago. Bem como o fazem as representações raciais do trabalho de uma maioria da população negra, amplamente associadas a um corpo naturalizado como mais forte, herança da escravidão. Entre natureza e cultura constrói-se uma barreira técnica. E a lógica capitalista dita: o que não foi aprendido não deve ser economicamente valorizado. As representações sobre o trabalho feminino e masculino criam barreiras de ingresso de mulheres em profissões associadas a competências altamente técnicas, como é o caso das engenharias. Essas profissões são melhor remuneradas, o que gera desigualdade.
Mesmo quando elas desafiam esses estereótipos de gênero, enfrentam desafios de permanecerem críveis enquanto profissionais tecnicamente competentes. Sofrem deslocamentos de funções técnicas para cargos de gestão, por ser delas esperado que cuidem das emoções do “time” e dos clientes, sem compensação salarial equivalente aos seus pares homens. Ao sugerir que o acidente da obra do metrô em São Paulo foi resultado do trabalho de mulheres, o dep. Eduardo Bolsonaro faz uso de uma representação social que é responsável por reproduzir desigualdades de gênero. Nenhuma surpresa, posto que seu compromisso nunca foi o de combater tais desigualdades.
Bárbara Castro. Unicamp (@unicamp.oficial)
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.