Por João Carlos Jarochinski Silva

Publicado originalmente 11/03/2022

#AbreAspas | Em uma era em que a mobilidade humana assume cada vez mais protagonismo nas agendas nacionais e internacionais, era óbvio que um dos primeiros enfoques sobre o conflito na Ucrânia versasse sobre o deslocamento forçado de pessoas fugindo dos horrores da Guerra. Importa, também, salientar que o fato dos deslocados serem brancos europeus, em sua significativa maioria, faz com que a atenção midiática seja bastante expressiva, o que não é ruim, mas, comparativamente, o sofrimento desse grupo recebe maior atenção e destaque quando comparado a outros fenômenos semelhantes que ocorrem ao redor do mundo.

​Além da atenção midiática, a recepção e o acolhimento dessas pessoas farão com que parte do recurso que hoje é investido internacionalmente em outras ações de natureza humanitária, como é o caso da Operação Acolhida, direcionado para as atividades que visam atender ao contexto ucraniano, o que pode inviabilizar projetos realizados em outras partes do mundo que continuam a ser problemáticos, como Roraima.

Boa parte do que é realizado na fronteira Brasil – Venezuela decorre de recursos internacionais. Sem o interesse e o dinheiro desses atores, a situação da Operação e das ações desenvolvidas se tornaria insustentável, com o possível retorno a um quadro agravado de tensões entre pessoas de nacionalidades diferentes, visto que o preconceito/xenofobia ainda são muito presentes no local.

Por fim, a lenta transição de uma ação de caráter emergencial como a Operação Acolhida para medidas de incidência maior na integração dessas pessoas imigrantes e refugiadas que se busca implementar atualmente sofreria um enorme revés, ficando sujeitas a um orçamento insuficiente provido por autoridades sem interesse de fato no sucesso das medidas focadas no acolhimento e integração.

Texto e foto: João Carlos Jarochinski Silva – PPGSOF/ UFRR (@ufrr)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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