Por Esther Solano Gallego

Publicado originalmente em 05/04/2022

#AbreAspas | Fizemos pesquisa qualitativa com jovens de 16 a 18 anos de todo Brasil que votarão pela primeira vez. De forma geral este jovem, ainda que defenda o voto, o faz com pouca motivação, está pouco engajado.

Ele percebe um grande distanciamento com uma política que considera “chata”, envelhecida em temas, formas e comunicação, corrupta, com lideranças que não comunicam com ele e não o seduzem, sente-se invisível por políticos que o ignoram.

Este jovem ainda, aprende pouco sobre política inserido num sistema educativo estruturalmente despolitizado, sofreu uma grande carência educativa na pandemia, com frequência teve problemas de saúde mental e é vítima da censura que o legado bolsonarista da Escola sem Partido impôs nas escolas. Tampouco pode falar livremente em casa pois política é um tema “que causa briga”.

Na escola não se fala de política. Em casa não se fala de política. Onde então? Este jovem começa sua jornada de politização, sem referências nem apoio, nas redes sociais, onde consome mais comentário e opiniões alheias do que informação, mais polémica do que notícia, onde o medo do cancelamento faz com que ele não se expresse livremente, onde está vulnerável a desinformação e manipulação.

Este jovem se conecta emocionalmente a temas como meio ambiente, pautas identitárias, luta contra a pobreza e a desigualdade, de forma geral condena a ditadura e defende a democracia e a liberdade, mas está desvinculado ideológica e afetivamente das instituições democráticas e sobretudo dos partidos políticos. Ele prefere uma política de causas, “despartidarizada”.

Mas, este jovem, com seu voto, pode decidir a eleição de 2022. Até quando vamos deixar este jovem sem educação política, sem referências, se sentindo irrelevante nos partidos?

Esther Solano Gallego. Socióloga, UNIFESP (@unifespoficial)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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