Por Lux Lima e Silvana Nascimento

Publicado originalmente em 09/05/2022

#AbreAspas | Em 30 de abril, o Museu da Diversidade Sexual foi obrigado a fechar as portas por uma decisão judicial. O MDS, localizado na estação de metrô República em São Paulo (SP), funciona desde 2012, e se dedica à expressão e à valorização da memória, arte e ativismo da comunidade LGBTQIA+. O fechamento se refere à ação movida pelo deputado estadual Gil Diniz (PL): o parlamentar bolsonarista apontou irregularidades no contrato entre a gestão do espaço e a Secretaria de Cultura do estado. Segundo sua ação, as verbas destinadas ao MDS seriam “exorbitantes”, levando em conta, em suas palavras, que é apenas uma “salinha de exposição”. A decisão liminar não determina o fechamento do museu, mas impede a atual gestão de mantê-lo em funcionamento.

O que o incômodo de Diniz comunica? Em uma década, o MDS traz a uma estação de metrô, no centro de SP, a voz da comunidade LGBTQIA+ com produções artísticas e audiovisuais de artistas trans e não heterossexuais. Tem feito um trabalho estético e político de celebração de uma coletividade que se recusa a habitar o espaço da “moral e dos bons costumes” do conservadorismo LGBTfóbico. Faz um convite ao questionamento de pressupostos comuns do que é arte, ativismo e história, em um país tão marcado pela LGBTfobia, que alimenta uma memória coletiva tão centrada em pessoas cisgêneras, heterossexuais e brancas.

A “salinha” tem sido capaz de “passar o dedo no glacê do bolo” das certezas de muita gente, como diria Jaqueline Gomes de Jesus, intelectual transfeminista negra. O que poderia acontecer caso recebesse mais verbas? O incômodo de Diniz comunica o medo da exorbitância de uma comunidade que consegue fazer tanto com tão pouco, que tem o poder de fissurar padrões normativos de existir, que apresenta uma multiplicidade de fazer horizontes e modos de habitar o corpo e a vida. É pra incomodar mesmo! Essa arte é uma autodefesa e um canal direto de linguagem, ideia e ação. Nos dá forças para refazer o mundo.

Lux Lima (mestre e doutorande em Antropologia Social pela USP, @usp.oficial) e Silvana Nascimento (professore do departamento de Antropologia da USP)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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