Por Daniel Cangussu

Publicado originalmente em 17/06/2022

#AbreAspas | Bruno Pereira foi exonerado em 2019 do cargo que ocupava na Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) para ser substituído por um pastor evangélico cuja única competência era o proselitismo religioso.

É sabido que a exoneração de Bruno foi motivada por “incompatibilidades” com a gestão e as diretrizes adotadas pelo presidente atual da Funai, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier, bem como pelo próprio presidente Jair Bolsonaro. Bruno, portanto, precisou se afastar da Funai para seguir com o trabalho que o Estado se recusa a fazer.

Ele representa inúmeros outros indigenistas que deixaram a FUNAI ao perceber que a entidade não estava mais ali para proteger os direitos dos povos indígenas, mas sim para o interesse daqueles que querem se apropriar dos seus rios, solos e florestas.

Dias antes do desaparecimento, Bruno falava da esperança de ver a FUNAI fortalecida novamente. De vê-la voltando a ser frequentada por indígenas e indigenistas, e não mais por ruralistas, missionários fundamentalistas e militares, como se tem visto. Ele sabia que a reconstrução da política indigenista seria lenta e gradual, assim como do Brasil de modo geral, mas ele garantia o entusiasmo e energia para participar deste processo: “Tenham calma! Faltam apenas mais 4 seis meses. Já enfrentamos muitas coisas. Logo isso vai passar”, dizia ele em uma de suas mensagens para animar os colegas.

A notícia do seu desaparecimento é um duro golpe para os seus familiares e amigos; aos indígenas que viam nele um parceiro.

Daniel Cangussu. Indigenista da FUNAI; mestre em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia – MPGAP/INPA; pesquisador do Laboratório Sistemas Socioecológicas, doutorando do PPG – Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre – ICB/UFMG (@ufmg)

A ANPOCS convida especialistas para se pronunciarem em seu nome sobre o bárbaro assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips.

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