Por Márcio Meira
Publicado originalmente em 17/06/2022
O indigenista Bruno Pereira foi um servidor público exemplar, e seguia a melhor tradição do indigenismo brasileiro, de defesa dos direitos indígenas.
Com um carinho especial, dedicou-se aos chamados “índios isolados”, aqueles que ao longo da história procuraram se distanciar do mundo dos brancos, sendo muito vulneráveis e sujeitos tanto às epidemias quanto aos ataques de invasores de seus territórios.
Esse é o caso da Terra Indígena Vale do Javari, que apresenta a maior densidade de povos indígenas isolados no mundo e uma das mais importantes Áreas Protegidas do bioma amazônico.
O atual governo, assumidamente inimigo dos indígenas e dos seus aliados, perseguiu Bruno por suas virtudes, forçando-o a se licenciar da Funai. Apesar disto, seguiu fiel ao seu compromisso, atuando naquela região ao lado dos nativos. Foi ele quem convidou o jornalista Dom Phillips, para justamente denunciar ao mundo as atrocidades por que estão passando os povos indígenas na Amazônia, desde 2019 submetidos ao maior ataque desde a Constituição de 1988.
A Constituição reconhece aos indígenas o direito originário sobre as terras que tradicionalmente ocupam, conforme seus usos, costumes e tradições. Terras que são de posse coletiva e exclusiva dos indígenas, mas de propriedade da União, a quem cabe a demarcação e proteção dos seus bens. Terras que têm o menor índice de desmatamento da Amazônia.
Os governos democraticamente eleitos no Brasil até 2018, mesmo de diferentes espectros políticos, mantiveram respeito aos direitos territoriais indígenas, conquistados na Constituinte. Com o atual governo, porém, a situação de ameaça aos indígenas extrapolou todas as variáveis de segurança, definidas pela legislação brasileira. A sociedade brasileira precisa, urgentemente, estancar esse verdadeiro genocídio!
Márcio Meira. Antropólogo do Museu Paraense Emílio Goeldi
A ANPOCS convida especialistas para se pronunciarem em seu nome sobre o bárbaro assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips.