Por Justino Sarmento Rezende – Tuyuka
Publicado originalmente em 21/06/2022
#AbreAspas | O sangue menstruado libera o odor e a cor nos patamares cósmicos. As constelações, as cobras, peixes, pássaros, insetos e os seres viventes sentem e desejam possuir a mulher e, não conseguindo, tramam sua morte. O bioma amazônico menstrua, exala o odor de pitiu, transpira com sabor salgado, azedo, travoso e adocicado. Os exploradores só enxergam a cor de dinheiro e do lucro, matam os animais, vendem suas peles, suas penas e sua carne. Cada árvore derrubada chora e derrama o sangue branco e vermelho. O ouro para os indígenas é a base do assento cósmico, mas para o explorador é simples objeto de desejo e gana. O leito dos rios, igarapés, as cachoeiras e as matas são destruídas. Os indígenas buscam viver em conexão com o cosmo, a Amazônia é um organismo vivo, habitado e defendido por nós.
Os exploradores veem os indígenas como inimigos do progresso e os matam. Cidadãos brasileiros e estrangeiros que defendem a vida amazônica são perseguidos e mortos. Enganam-se aqueles que pensam que eliminam os defensores da Amazônia. O sangue derramado vai longe, corre com as águas, penetra no subterrâneo e seu odor transita no patamar das constelações. As veias cortadas de Bruno Pereira e de Dom Phillips e de tantos outros fizeram jorrar o seu sangue de comprometimento com os povos da Amazônia. Esse sangue clama pela justiça nesse país de governantes que incentivam e compactuam com a injustiça, com a violência e a morte. O sangue de Bruno e Dom Phillips se soma ao sangue de muitos indígenas e dos defensores da Amazônia.
Justino Sarmento Rezende – Tuyuka. Antropólogo, pesquisador do NEAI/UFAM (@ufam__)
A ANPOCS convida especialistas para se pronunciarem em seu nome sobre o bárbaro assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips.