Por Maíra Padgurschi

Publicado originalmente em 10/08/2022

#OcupaANPOCS | O reconhecimento dos humanos como natureza e da natureza como humanidades em uma relação de reciprocidade é elemento central das cosmovisões de distintos povos indígenas. Ambos, humanos e natureza, estão envolvidos em um mesmo plano de transformações mútuas.

Artefatos da cultura material, por exemplo, são elementos da natureza modificados a partir de tecnologias desenvolvidas através dos séculos ao mesmo tempo em que transformam os corpos humanos no mesmo processo produtivo. Nesse fluxo, plantas são plantas, abrigo de animais, cestos, instrumentos musicais ou tipiti. Para cada artefato, uma ou mais espécies são utilizadas como parte de um processo que envolve troca, respeito, saberes, práticas constituindo-se a base da proteção de seus territórios ancestrais.

Assim, povos indígenas constituem-se como pilares da conservação da biodiversidade. Globalmente, cerca de 40% das paisagens florestais bem preservadas estão dentro de terras indígenas, e apenas na América Latina as florestas em territórios indígenas perfazem quase 30% do carbono armazenado.

Esses territórios e seus povos têm papel fundamental, portanto, no enfrentamento das inúmeras crises (humanitária, ambiental, climática) criadas por grande parte das sociedades não-indígenas. O futuro está em apreender esse conhecimento ancestral conectado à diversidade biocultural.

Imagens retiradas de Rodrigues (2021) – Corpos que emergem: vegetais trançados e sua persistência entre os povos do rio Mapuera (https://orcid.org/0000-0002-4793-8157)

Maíra Padgurschi. Pesquisadora, Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena/UFAM, Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas aplicadas à Agricultura/Unicamp

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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