Por Lino João de Oliveira Neves

Publicado originalmente em 23/06/2022

#AbreAspas | As mortes de Bruno Araújo Pereira e Dominic Phillips… Aliás, morte não; porque morte matada tem nome: é assassinato. O assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips evidencia a criminalidade que viceja nas fronteiras e nos centros do país e as suas ligações com os poderes políticos que permitem aos cartéis, às quadrilhas, às gangues, às máfias, às milícias agirem livremente na certeza da impunidade.

Quem matou os dois “aventureiros”?
Já que a pergunta reproduz a condenação prévia proferida pelo Chefe do Executivo, a resposta fornecida pela “conclusão” da Polícia Federal que investiga o caso reproduz a mesma lógica explicativa: quem matou Bruno e Dom foram pescadores da profundeza da floresta Amazônica, sem que haja nenhum mandante do crime, nem, tampouco, nenhuma ligação com o tráfico internacional que, para a mesma (i)lógica, não existe naquela região de fronteira.

Bruno e Dom, e tantos outros, foram assassinados pelo ódio contra os índios. Não apenas um sentimento de fúria decorrente de disputas ou divergências locais, mas um ódio ideológico, ódio existencial, ódio civilizacional contra os povos indígenas, ódio contra a possibilidade de existência dos indígenas enquanto pessoas e principalmente enquanto grupos humanos social e politicamente organizados.

Bruno e Dom, e tantos outros foram sacrificados unicamente por defenderem a possibilidade dos indígenas continuarem a ser o que sempre foram: índios, na plenitude de suas culturas, ainda que na convivência com o mundo do branco.
Basta de tanta morte.

Já é hora de nós brasileiros construirmos juntos – índios, pretos, brancos, migrantes e nacionais – uma sociedade plural, onde caibamos todos como iguais, na riqueza de nossas diferenças. E, para isso, é preciso, extirpar o ódio que emana dos poderes que governam pais.

Lino João de Oliveira Neves. Professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (@ufam__)

A ANPOCS convida especialistas para se pronunciarem em seu nome sobre o bárbaro assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips.

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