Por Marcos Campos, Ananda Viana e Brauner C. Junior

Publicado originalmente em 15/07/2022

#OcupaANPOCS | FAZ O PIX! Essa é uma expressão que veio pra ficar. Persegui-la é uma boa oportunidade etnográfica para o estudo de transformações nos mercados de rua nas
cidades brasileiras. Nelas, tem sido comum a presença de vendedores ambulantes e artistas anunciando os próprios códigos PIX como possibilidade para a compra de mercadorias ou para a doação. Algo tão comum quanto o “aceita PIX?” pelos compradores.

Nas etnografias do dinheiro, como trabalhamos no Grupo Casa, nos interessamos por práticas como estas, que nos permitem acessar aspectos das vidas econômicas e dos usos do dinheiro.

Sendo assim, um bom caminho de investigação nos parece ser: como o PIX alterou conversões de dinheiro em mercadorias e/ou doações em dinheiro entre estes trabalhadores? O PIX inaugura novas formas de conversão de valores, como a sua rearticulação do modo de circulação do “dinheiro vivo” e também nas conversões de débito ou crédito nos mercados de rua.

Poderíamos imaginar uma alteração das práticas de circulação, partilha, empréstimo e aluguel de maquininhas de cartão, como é visível entre os ambulantes. Entre os artistas de rua, o PIX parece alargar os intervalos de doação ao desvincular a doação do “dinheiro vivo” que é circulado, os
trocados, aquele dinheiro perdido no bolso, sem muito valor e mais facilmente
transferível nessas situações.

Um fato que é, todavia, desfavorecido pela própria natureza da transação: não pareceria muito custoso para alguém que circula com pressa, parar, pegar o celular, abrir o aplicativo do banco, conferir o código e aguardar o 3G para a realização de um PIX de dois ou três reais? Não podemos nos esquecer, assim, da moralidade entre estas conversões. Aos artistas é legítimo solicitar um PIX, ou a estes são relegados apenas velhos trocados?

É por conversões como estas, as estratégias de vida, o governo das incertezas para manter a casa, movimentar-se pela cidade e construir horizontes temporais que nos interessamos em nossas etnografias no Casa.

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Marcos Campos, Ananda Viana e Brauner Cruz Junior. Grupo Casa (@casa.iesp).

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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