Por José Szwako

Publicado originalmente em 29/07/2022

#AbreAspas | Não demorou muito para organizações e militantes LGBTQI+ acenderem um sinal de alerta à fala do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. Dia 23 de julho, ele declarou que a varíola do macaco era de preocupação internacional de “risco moderado”. No entanto, o que incomodou ativistas e movimentos foi sua menção aos HSH – homens que fazem sexo com homens – como “grupo vulnerável”; não quaisquer HSH, mas mais “especialmente aqueles com múltiplos parceiros sexuais”.

A resposta desses movimentos foi certeira: essa mensagem não apenas carrega tons morais e moralistas, como, afinada à memória da gênese do HIV-AIDS, re-estigmatiza populações e sujeitos homossexuais na medida em que circunscreve um grupo, relembrando a equívoca noção de “grupo de risco”. Parte importante da crítica militante se dirigiu, com razão, ao discurso da OMS.

No entanto, analogamente aos movimentos progressistas e de ampliação de direitos, tampouco demorou para grupos e movimentos reacionários se utilizarem do discurso de Tedros para atacar tanto a militância LGBT como, de praxe, a própria OMS. Mais de dois anos acumulados de resultados positivos em favor de medidas como máscaras e vacinação contra a Covid fizeram acumular também o ressentimento desses grupos LGBTfóbicos. Um sem número de memes e fake news rapidamente transbordou nas redes e ecologias reacionárias de maneira a destacar a suposta aporia das vozes progressistas: aceitaram ficar em casa dois anos atrás, mas não aceitam agora “parar de dar o XX”.

Esse cenário todo não admite conclusões, especialmente nos limites de um post com este. Mas vale a pena pensarmos quem são nossos aliados e nossos adversários. Em que medida a crítica (fundamentada) a autoridades sanitárias pode jogar a favor de nossos adversários? Mais ainda: quais sentidos de “risco” são mobilizados nesse cenário? Assim, me parece interessante pensar que existem práticas e fatores de “risco”, sem necessariamente evocar um (estigmatizante) “grupo de risco”

José Szwako. IESP/UERJ (@iesp.uerj)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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