Por Silvio Sanches Barreto – Bará

Publicado originalmente em 09/08/2022

#OcupaANPOCS | O artesão bará do Alto Rio Negro costuma dizer para sua esposa, quando estivesse terminando de tecer:

– agora vou tecer asas nas bordas do abano. Ou melhor, acabamento final.

O abano tem três estruturas para tecer com as talas secas das folhas de tucum: o ponto inicial; meio para alargar o tamanho e o acabamento final com as asas. Para mulher tukana, o abano serve para virar beiju quanto para pegar a farinha do forno ou para tampar a panela de quinhapira (peixe, sal e a pimenta). Uma tampa vegetal! No esforço de dizer por tecer asas nas bordas da tese.

Eu estou nesta fase da escrita de fazer o acabamento final na tese. O sentido de escrever os detalhes que são conhecimentos de meus pais que estão sendo colocados no papel. Para escrever isto tive que organizar uma roda de conversa com meus pais, no sitio Taiaçu (Casa das queixadas) que está localizado no médio rio Tiquié, no interior
da cidade de São Gabriel da Cachoeira.

A roda de conversa é uma produção e circulação da epistemologia para uma gestão de cosmopolítica tanto entre os seres humanos quanto para povo da floresta e para gente do mundo, o bem-estar de todo o universo. É o modo da transmissão, da troca ou atualização de conhecimentos ancestrais no Alto Rio Negro. Na região da cabeça do cachorro, os pais ou avôs na calada da noite costumam narrar as histórias antigas para seus filhos para voar outras paisagens sociais.

Silvio Sanches Barreto – Bará. Doutorando no PPGAS/UFAM e pesquisador do NEAI (@neai_ufam)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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