Por Eduardo Vargas e Guilherme Sá

Publicado originalmente em 12/10/2022

#AbreAspas | É com tristeza que participamos a morte de Bruno Latour ocorrida no último domingo, 9 de outubro. Polímata e pensador público infatigável, em seus 75 anos de vida renovou as ciências humanas seguindo as agências dos objetos sociotécnicos; lutou e pacificou guerras da ciência; descreveu e experimentou modos de existência. Provocador, perseverava em dizer que a modernidade não nos legou um projeto seguro de convivência porque apartou a sociedade da natureza e porque a história que se contou foi a do excepcionalismo humano, em detrimento dos terranos. Daí a insatisfação com o aparato crítico moderno e a insistência nas conexões e nos vínculos, que o afetavam a tantas e tantos: seguir os atores, mapear as redes, atentar para os efeitos, aprender com as controvérsias, compor mundos.

Tornou-se em vida um dos autores mais publicados, traduzidos e citados por todo (o) mundo. Tinha uma relação especial com o Brasil. Seu legado entre nós não será estimado por cientometria. Mais vale buscar etnograficamente os afetos e efeitos que legou nas gambiarras de nossos pensamentos.

Somos especialmente tocados por termos partilhado de sua existência em diferentes ocasiões. Se a morte de alguém é um modo abrupto de cortar uma rede, graças às mil formas e ao contagiante vigor de suas presenças herdamos de Latour esse gesto, esse sopro que nos revitaliza. Latour morreu.

Viva Latour que, como Gabriel Tarde, o conterrâneo que figurou ser seu ancestral intelectual tardiamente descoberto, amou a vida social e jamais se desesperou quanto ao seu futuro, por mais que os tempos sejam difíceis e que os mundos estejam em risco.

Foto: Bruno Latour Making Things Public – Karlsruhe, Alemanha, 2005 – E. Vargas

Eduardo Vargas (UFMG) e Guilherme Sá (UnB)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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