Por Beatriz Rodrigues Sanchez

Publicado originalmente em 05/10/2022

#Eleições2022 | A centralidade da questão de gênero nas eleições deste ano mostra o que nós, pesquisadoras feministas, temos apontado há tempos: o feminismo não é somente uma luta cultural, cortina
de fumaça ou pauta identitária. O feminismo está no centro da disputa sobre os sentidos da democracia.

As candidatas à presidência Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) se autodeclararam feministas diversas vezes ao longo da campanha, em um evidente aceno ao eleitorado feminino que tem sido disputado pelos candidatos. Mas de qual feminismo elas estavam falando? De acordo com Tebet, o feminismo seria a luta por condições igualitárias entre homens e mulheres. Ela tem razão, mas o feminismo não se limita a isso. Como já nos ensinaram os feminismos negros, marxistas e decoloniais, não há feminismo possível sem que haja uma discussão estrutural sobre capitalismo, colonialismo e racismo.

Durante o processo que antecedeu o primeiro turno das eleições, foi chocante o despreparo dos candidatos em relação à agenda de gênero e revoltante o silêncio ensurdecedor sobre a agenda racial, a despeito do avanço das teorias e ativismos feministas e antirracistas no Brasil.

Além disso, a violência política de gênero tem sido uma das marcas do período eleitoral. O atual presidente da República, Jair Bolsonaro, foi protagonista de alguns dos principais episódios. A forma violenta como vem tratando mulheres jornalistas em rede nacional é apenas um entre tantos sinais daquilo que tem sido uma das marcas de seu governo: a misoginia.

Os desinvestimentos em políticas públicas de promoção da igualdade de gênero e racial também são reflexo do projeto político do atual governo. Todos esses elementos podem explicar uma maior rejeição do eleitorado feminino a Bolsonaro, o que pode ser decisivo para o
resultado do pleito neste segundo turno.

Beatriz Rodrigues Sanchez. Pós-doutoranda no Cebrap

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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