Por Luiza Câmpera

Publicado originalmente em 16/08/2022

#OcupaANPOCS | Os Tikuna e o jenipapo

Os Magüta, como também se autodenominam os Tikuna, abrangem um dos grupos indígenas mais numerosos da Amazônia. São habitantes das margens e interflúvios do rio Solimões no Amazonas, sendo que a maior parte deles estão localizados no alto rio Solimões.

Uma das características marcantes deste grupo é a relação com as plantas, dentre elas, o jenipapo. O mito de origem dos Tikuna demonstra como o jenipapo é um dos elementos centrais do surgimento deste povo. É através da borra do sumo desta fruta, usada por Yoi e ralado pelo seu irmão Ipi, que o novo tempo-espaço surge, e assim os Magüta.

Segundo os Tikuna, jenipapo é um vegetal que tem suas relações com os humanos
tanto na história passada quanto presente. Os velhos contam que antigamente Ipi engravidou a mulher de Yoi e este resolveu castigar o irmão. Quando a criança nasceu, tinha que se pintar da tinta de jenipapo, mas quando Ipi foi buscar a fruta e começou a subir na árvore, esta começou a crescer. Ipi sofreu muito, mas conseguiu tirar uma fruta. A borra de jenipapo se transformou em peixes e depois em gente, considerados hoje o povo Magüta.

A tinta do jenipapo marca a noção de humanidade para os Tikuna, referência à prática de pintura corporal durante os rituais, além do lugar deste vegetal como instrumento de produção da identidade e controle da alteridade (pelo uso no corpo, com grafismos faciais ou o corpo negro para guerra, festa e luto; para mostrar-se aos não indígenas). Entre os Tikuna, as pinturas faciais feitas da tinta do jenipapo são uma forma de compor a pessoa tikuna, assim como as práticas cotidianas e rituais envolvendo as plantas, em vários momentos da vida.

Imagem: Luciane Samias Tikuna

Luiza Câmpera. Doutoranda pelo PPGAS/UFAM e pesquisadora do NEAI

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS

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