Por Débora Thomé

Publicado originalmente em 05/10/2022

#Eleições2022 | Para quem estuda representatividade, no dia seguinte às eleições, enquanto boa parte dos cientistas políticos estão atentos ao que se passou nas disputas a presidências e governos dos estados, nossas contas se voltam para entender a composição do Congresso, buscando identificar como grupos majoritários na sociedade brasileira, mas historicamente sub-representados nos espaços de poder – a saber, mulheres e pessoas negras -, estarão representados na nova legislatura.

O que ocorreu nestas eleições, mais uma vez, foi o aumento da participação percentual das mulheres no Congresso; e, mais uma vez, podemos dizer que tal presença continua muito abaixo de um índice razoável. As mulheres, que são 52% da população brasileira, na Câmara Federal, passaram a ser agora 17,7% dos deputados, acima dos 15% da última legislatura. Isso coloca o Brasil em torno do 132º lugar (entre 190 países) no ranking de representação feminina da Inter-Parliamentary Union; o pior da América Latina.

A partir de 2023, 91 mulheres irão compor a bancada feminina, 29 delas (mais que o dobro das 13 eleitas em 2018) são mulheres pretas ou pardas. Foram também eleitas 2 indígenas e 2 mulheres trans. Com a mudanças nas regras de coligação, quase metade da bancada será composta por deputadas do PL e do PT. A diminuição das eleitas do centro e o perfil mais conservador deverão aumentar o desafio de encontrar agendas comuns.
Pesquisas que desenvolvo, juntamente com a professora Malu Gatto, têm apontado que o eleitorado, sim, deseja votar em mulheres e em pessoas negras, entretanto, fatores como ideologia, indicação e viabilidade são mais relevantes na hora de decidir o voto que questões de sexo e raça.

Fazendo uma simulação, caso o aumento de 18% de deputadas fosse mantido nas próximas 5 eleições, apenas em 2042 chegaríamos perto da paridade no país. No México e na Argentina, isso é algo que já ocorre hoje. Ou seja, ainda é muito pouco.

Débora Thomé. Pesquisadora do Cepesp/FGV e do LabGen-UFF (@labgen_uff)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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