Por Mario Brunoro
Publicado originalmente em 17/08/2022
#OcupaANPOCS | Foi no contexto da disputa pela demarcação de fronteiras nacionais, intimamente ligada a uma competição de empresários da borracha e do caucho pelo controle das florestas, que Manoel Urbano da Encarnação, Chandless e Labre navegaram o Rio Purus e seus afluentes, tidos como protagonistas na história oficial da região.
Não à toa seus nomes foram inscritos na paisagem: os municípios de Lábrea (AM) e Manoel Urbano (AC) e o Rio Chandless. Mas o que acontece se deslocarmos a história desta região para longe de seus rios? Ao que parece, se descentralizarmos o Rio Purus das histórias dos povos que com ele vivem, é possível observar que o rio como o principal eixo de circulação deriva-se da inserção da economia de mercadorias. É por ele que elas chegam e vão embora. Mas não era necessariamente por ele que os povos indígenas circulavam e se mobilizavam.
A partir desta provocação, é possível explorar a possibilidade de se contar outras histórias, cujo eixo narrativo não seja um olhar do rio para as margens, mas sim uma perspectiva descentralizada e desierarquizada, que tome como referência o protagonismo indígena no interior dos interflúvios.
A hipótese aqui é que esta dimensão atribuída ao Rio Purus e à hidrografia de maneira geral não é algo dado, mas sim uma relação construída dentro de processos de colonização e nacionalização. A tarefa, portanto, é extrair da literatura oficial, a partir de informações pontuais, localizadas no espaço e no tempo, uma imagem adequada para tal descrição. Nos relatos de Silva Coutinho, Chandless e Labre há uma série de informações que possibilitam este tipo de abstração em favor de uma rede complexa, diversificada e de grande mobilidade, em especial nos interflúvios e cabeceiras dos
rios.
Imagem: Rio Purus visto de Lábrea, maio de 2022. Mario Brunoro
Mario Brunoro. Mestrando pelo PPGAS/UFAM e pesquisador do NEAI
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS