Por Paulo Augusto Franco
Publicado originalmente em 27/10/2022
#Eleições2022 | Faltam poucos dias para o Brasil definir quem será o presidente da República. Nos dias e semanas que antecedem o voto nas urnas, o tempo da espera costuma ser preenchido, entre outros, por atos e estratégias de campanha, debates, adesões e pela construção de aspirações. No “tempo da política”, na concepção dos antropólogos Beatriz Heredia e Moacir Palmeira, palanques e disputas invadem as nossas atividades cotidianas. Nesse período tão crucial no calendário da população, os acirramentos são autorizados, algumas relações e visões são colocadas à prova, e muitas ambiguidades são mostradas. Assim é e deveria sempre ser a democracia.
Mas, desde 2018, a experiência com esse tempo vem sendo alterada de maneira drástica. A máquina da extrema-direita bolsonarista, ao usar o medo e a perplexidade como ativos eleitorais, atenta contra o cotidiano. A disseminação em massa de mentiras e ódio é investida para o sequestro e erosão de nossos símbolos e conquistas democráticas. Mas temos constatado que tal máquina pretende corroer também os nossos sentimentos, o bem-estar, as relações e, principalmente, as nossas capacidades e possibilidades de sonhar e planejar o futuro.
Como resultado, a experiência da política mostra-se como tempo agoniado e, como é muito dito, com a sensação de presente repleto de tensões que não cessam. Em 2022, assim sentimos porque sabemos que aquilo que está em jogo, finalmente, é a recuperação e restauro urgentes do tempo da política democrática. Nele desejamos voltar a esculpir na espera a esperança. E sabemos que o maior medo do autoritarismo é a esperança.
Paulo Augusto Franco (@francoguto). Pesquisador de Pós-doutorado; Departamento de Antropologia – USP
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.