Por Jacqueline Sinhoretto
Publicado originalmente em 25/10/2022
#Eleições2022 | A resistência de Roberto Jefferson (PL) à prisão, disparando vinte tiros de fuzil e duas granadas contra policiais federais sintetiza uma série de dinâmicas que tem caracterizado a segurança pública no país nos últimos anos. A licenciosidade na posse de armas superiores às portadas por policiais em operação cotidiana indica que as autoridades militares e própria Polícia Federal (PF) perderam a capacidade de controle de armamentos.
O duplo padrão adotado em operações de cumprimento de mandado judicial também ficou explícito: operações em que policiais federais atuaram em favelas e bairros populares não tiveram negociadores de paz e terminaram com elevado número de mortos, como aconteceu no Jacarezinho.
O envolvimento de policiais federais em operações com alto número de mortos não era comum nas décadas anteriores. A Polícia Rodoviária Federal passou a se envolver em operações conjuntas em áreas urbanas e produzir situações como a “câmera de gás” na viatura, o que descaracterizou sua missão civil de segurança nas estradas. Ao contrário dos discursos de dureza contra os criminosos, nos últimos anos houve enfraquecimento da doutrina de polícia profissional, dando lugar à tolerância de abusos. A situação de tensão política promovida pelo questionamento da lisura das eleições, o tom agressivo da campanha para a reeleição, os ataques sistemáticos ao Supremo Tribunal Federal terminam por enfraquecer a capacidade de ação do Judiciário e das polícias federais contra ações extremistas e ataques às autoridades civis. Nada garante que as cenas de resistência armada a policiais, por motivação política, não se repitam nas próximas semanas.
O governo de orientação de extrema direita que se elegeu com a promessa de valorização dos policiais e investimento em segurança, de fato, apenas contribuiu para acrescentar mais uma esfera de ameaças – a da violência política – ao invés de construir uma política integrada de segurança para a defesa incondicional da vida e da paz.
Jacqueline Sinhoretto. PPGS-UFSCar
*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.