Por Carlos Reiss

Publicado originalmente em 04/11/2022

#Eleições2022 | Os manifestantes em São Miguel do Oeste filmados com os braços direitos estendidos voltados para o alto e com a palma da mão para baixo têm justificado o gesto das mais diversas formas: juramento à bandeira, oração, emanar “energias positivas” e até por um pedido para que o golpista de trás colocasse as mãos no ombro do golpista da frente.

Precisamos destacar o contexto – e nada do que aconteceu os absolve dos graves crimes de conspiração e atentado à democracia. É nele que o gesto foi realizado, e não em ambiente que qualquer das desculpas se tornaria plausível. É impossível não relacionar ao contexto – e o gesto por si só se configura em ataque à democracia.

Digamos, a despeito de tudo, que seriam “apenas” patriotas cristãos ultraconservadores exercendo suas liberdades (sic). Mesmo se tivessem sido feitos ingenuamente pela multidão, a estética do gesto e o contexto (social e histórico) deveriam ser suficientes para que não precisássemos nos deparar com tais cenas ofensivas. Se não querem parecer nazistas, não assumam tal risco. Não produzam imagens horripilantes como essas. Não alimentem o nazismo, em que o crime de apologia é previsto em lei. Não se comuniquem e não acenem a essas pessoas. O gesto é mais um sinal de alerta das dezenas de sinais que nós estamos recebendo há anos – no Brasil e no mundo.

Como sairemos desse buraco? Os caminhos para cessar o ciclo de intolerância e retornar a patamares aceitáveis de convivência envolvem o debate sobre educação antifascista e universalização dos Direitos Humanos (que inclui a Pedagogia do Holocausto), o apoio às instituições democráticas, o fortalecimento da imprensa responsável e a firme atuação dos órgãos do Poder Judiciário.

Não se trata de “caça às bruxas”. Trata-se de retomar os rumos de uma democracia pujante.

Carlos Reiss (@carlosreiss1). Coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba (@museudoholocausto)

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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