Por Marina Félix de Melo

Publicado originalmente em 10/02/2023

#MulheresNaCiência | O que lhe passa à cabeça ao escutar o termo “produção científica”? Em que medida uma reflexão sobre as relações de gênero na ciência pode interferir no que você pensou sobre a pergunta acima? O estudo “Gênero e desigualdade na academia brasileira” (MELO et al, 2021) demonstrou que existem diferenças entre homens e mulheres no que diz respeito à distribuição das bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq no Brasil.

Pela referida investigação, observa-se que existem menos mulheres entre bolsistas de produtividade de níveis mais altos do CNPq, assim como nas áreas que recebem mais recursos e investimentos. O mais curioso é que, acreditem, o estudo também analisa a produtividade acadêmica dos PQs, através da construção de um índice de produtividade, e conclui que não existe diferença estatisticamente significativa entre mulheres e homens no que se refere à produção. Tampouco existe diferença estatisticamente significativa entre a produção deles e delas quando o assunto é divulgação científica em revistas reconhecidas como qualificadas pela Capes, as de estrato superior.

Outra pesquisa, que analisou as 283 teses de doutorado defendidas entre 2012 e 2014 nos Programas de Pós-Graduação em Sociologia no Brasil (MELO et al, 2018), aborda as desigualdades de gênero na sociologia brasileira. Nesta investigação, observou-se que nos PPGSs de nota 7, os melhores conceituados na área pela Capes, existia quase o dobro de teses defendidas por homens em relação às teses defendidas por mulheres. Foi também verificado que 67,5% das teses de sociologia teóricas eram escritas por homens, contra 32,5% por mulheres. Doutorados sanduíche, ou outras formas de intercâmbio, eram atividades cumpridas por 57% de homens, contra 41% de mulheres.

Estes são somente alguns dados que demonstram a urgência de análise e de intervenção nestes quadros sociais. Desigualdade de gênero na academia é uma realidade que precisa ser, mais do que discutida, transformada.

Marina Félix de Melo. Universidade Federal de Alagoas

*Este post não representa necessariamente a posição da ANPOCS.

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